quarta-feira, maio 28, 2008

Sereia

Guardei meus manuscritos embaixo da sétima onda do oceano. Indo da esquerda para a direita. Aonde a espuma branca vislumbra o meu sorisso. Megulhei e permaneci submersa. A esperar o momento do aparecimento. Os papéis permaneceram firmes e legíveis. Por baixo da areia fina era possível lê-los a olho nu. Senti-me parindo a vida. Num repente, a tormenta do vento pairou sobre a água. Minha escama sentiu medo. Um redemoinho varreu o esconderijo dos meus diários. Tudo mudou agora. Recolho as folhas por praias distantes. Quase tentando recompor a minha linhagem. Sem canto nem acalanto. Só com coragem.

domingo, maio 25, 2008

Poeminha

Vida imune
Via cruxis
Vê e arrume
Coração impune

Sê metade
Corre saudade
Busca insone
Encontro no lume

Dorme e acorda
Sente na roda
Entende e concorda
Memória no curtume

sexta-feira, maio 02, 2008

Comida

Desmancho. Derreto. Fico em cima de ti. Mordo o teu arremedo. A língua suspira e permanece inerte. O chão ainda permanece quente apesar da chuva intermitente. Sonhei que você vôou para longe. Outro continente. Mais quente e selvagem. Foi apenas um sonho. Naturalmente. Pois quando acordei você ainda estava rente. Abraço que cobre o mundo e nem pede passagem. Só me quer na miragem. Digo que preciso ir. Talvez nem precise, mas quero. É necessário para mim existir longe de ti. Ser uma imagem acabada do contorno do desejo. Mas se você me pede para ficar... quem sabe eu fico e te como enfim... mordida final... sangue no dente...