segunda-feira, setembro 17, 2007

Flor

Porque ele não saberia mais esperar. Era por isso que mais uma vez ele ligou para ela. Como sempre fazia. A voz muda do outro lado da linha. Respiração seca e curta. Vida longa. Ele disse o que estava dentro da sua garganta. Palavras que cortaram toda a sua inaparente sofreguidão. Adorava esta palavra. Era da medida da sua dor e do seu gozo. Desligou o telefone sem nem mesmo dar a chance dela retrucar. Ele já sabia que ela não o faria. Mesmo assim não deu tempo algum. Corte profundo. Andou pela rua a esmo. A imagem da sua mãe a olhar o telefone não saia da sua cabeça. Entrou num cinema para parar de pensar. Já tinha cansado de tentar entendê-la. Não mais o faria.

Saiu do cinema e encontrou uma flor no chão. Pisada e seca. Reconheceu nela o seu coração. Ligou de novo e desta vez a xingou. E levou a flor para a casa. Ver se ela conseguiria fazer algo com ela. Se conseguisse, talvez desse também o seu coração para ela. Talvez...

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