Habitar o tempo por João Cabral de Melo Neto
Para não matar seu tempo, imaginou:
Vivê-lo enquanto ele ocorre,
Ao vivo;
No instante finíssimo em que ocorre,
Em ponta de agulha e porém acessível;
Viver seu tempo: para o que ir viver
Num deserto literal ou de alpendres;
Em ermos, que não distraiam de viver
A agulha de um só instante,
Plenamente.
Plenamente: vivendo-o de dentro dele;
Habitá-lo, na agulha de cada instante,
Em cada agulha instante: e habitar nele
Tudo o que habitar cede ao habitante.
E de volta de ir habitar seu tempo:
Ele corre vazio,
O tal tempo ao vivo;
E como além de vazio, transparente,
O instante a habitar o invisível.
Portanto: para não matá-lo, matá-lo;
Matar o tempo,
Enchendo-o de coisas;
Em vez do deserto,
Ir viver nas ruas
Onde o enchem e matam as pessoas;
Pois como o tempo ocorre transparente
e só ganha corpo e cor com seu miolo
(o que não passou do que lhe passou),
para habitá-lo: só no passado, morto.
Vivê-lo enquanto ele ocorre,
Ao vivo;
No instante finíssimo em que ocorre,
Em ponta de agulha e porém acessível;
Viver seu tempo: para o que ir viver
Num deserto literal ou de alpendres;
Em ermos, que não distraiam de viver
A agulha de um só instante,
Plenamente.
Plenamente: vivendo-o de dentro dele;
Habitá-lo, na agulha de cada instante,
Em cada agulha instante: e habitar nele
Tudo o que habitar cede ao habitante.
E de volta de ir habitar seu tempo:
Ele corre vazio,
O tal tempo ao vivo;
E como além de vazio, transparente,
O instante a habitar o invisível.
Portanto: para não matá-lo, matá-lo;
Matar o tempo,
Enchendo-o de coisas;
Em vez do deserto,
Ir viver nas ruas
Onde o enchem e matam as pessoas;
Pois como o tempo ocorre transparente
e só ganha corpo e cor com seu miolo
(o que não passou do que lhe passou),
para habitá-lo: só no passado, morto.
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