terça-feira, abril 25, 2006

instantâneos de igrejas...

ANJOS DE NINAR – Igreja Matriz - Parati

A chuva não para,
Ás vezes fina, às vezes rara,
Outras valente e forte,
Como se a mostrar a sua cara,
Sem sorisso, nem sorte,
Mas com a morte do que transforma.

Entro na igreja,
Ao fundo, a ave maria me beija,
Traz ao meu coração,
O calor que a chuva apagou,
Com a sua imensidão.

As cores da nave
São as mais inesperadas,
O azul turquesa lembrando o céu,
O amarelo como se fosse a gema do ovo,
Vida que não vingou no lodo,
E o rosa salmão estampado em flores de plástico,
Como se a dar a aparência do eterno ao que é apenas transitório, quase fantástico.

Colunas de anjos crianças,
Uns brancos, outros negros,
Emolduram o altar,
Circundados por rosas de seda,
Que lhes dão o ar de bonecas,
Aguardando crianças para os ninar.

Duas imagens se confrontam,
Um guerreiro com uma espada e uma balança,
E uma mulher a segurar uma criança.
As duas faces do humano,
O masculino, com sua força e equilíbrio,
E o feminino com o seu amor desmedido.

Permaneço sentada,
Não consigo levantar,
São tantos símbolos, tantas mensagens,
Mas o que ainda me dói,
É saber que de ti vou me separar...

A imagem da pomba no topo da nave,
Me olha com esperança,
E eu lhe digo, sem palavras,
Apenas com as lembranças,
Que ainda sou muito humana,
Para não sentir esta mudança.

Penso que poderia voltar,
Caminhar até o ponto em que não fosse necessário se separar,
Mas os anjos crianças me olham como se a dizer,
Coragem, neste caminho não há volta,
Pois ele é sempre circular,
Basta levar uma rosa numa mão para não murchar,
E a esperança na outra, a espalhar.


AUSÊNCIA LIBERTA - Igreja do Rosário - Parati

Pequena como a mão que os afagou,
Um altar com azul e dourado,
Duas imagens ao lado,
Uma negra, parece São Benedito,
Outra branca, parece um profeta com barba, altivo.

Dizem que era a igreja dos escravos,
Atmosfera inquieta,
O ruído da rua adentra,
E traz para o ambiente,
Uma sensação que desperta a minha ausência,
Vazio que contamina as minhas crenças,
E as torna mera inexistência ...

As pombas aqui também estão,
A emoldurar as imagens,
Imaginando que assim,
Elas sustentam as miragens,
O sentimento de abandono e solidão,
Gravado no meu personagem.

O amarelo mais claro,
Aqui está nas velas,
É a própria luz,
Que tenta mostrar,
A direção do que se espera...

Me aquieto,
A música me acalma,
Não a conheço, mas mesmo assim,
Cala a minha alma.
Traz para dentro dela,
Aquilo que mais preciso,
A força e a humildade,
Símbolo daqueles que fizeram deste lugar,
O refúgio do corpo machucado, do espírito aviltado e da saudade do lar,
Cativos de outrora,
Que nos mostram que a libertação só é possível quando admitimos,
Que a verdadeira prisão é a corrente de sangue que esmaga o coração,
Orgulho que o deixa sem fala, nem ação,
Apertado, esgotado, enlameado,
E é só a fraqueza que liberta,
O sentimento do peso, a alma do não apreço e a calma do desassossego.

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