segunda-feira, maio 29, 2006

Festa do divino

Na linha dos escritos de viagens... neste final de semana conheci um lugar que há muito queria... a cidade de são luiz de paraitinga na festa do divino... aí vão as impressões...


Reflexões sobre são luiz do paraitinga

SOLIDÃO

Só agora percebo... vim até ti para tentar encontrar o divino que habita em mim. Ensaiei esta viagem tantas vezes. Há exatos dois anos atrás ela quase foi possível, investiguei, perguntei mais ainda não tinha a coragem necessária para te confrontar. Neste ano, também não fui eu que te procurei... quando percebi já estava com as malas prontas rumo ao teu destino. Festa do divino.

Cheguei em ti mais tarde do que esperava. A fome na estrada, o café e a conversa amiga me detiveram mais tempo do que o programado. Logo que te avistei, encontrei tuas casas, tuas igrejas e tua praça. Postas como um cenário pintado. Senti-me invasora do teu enredo. E por mais que tentasse, simplesmente não compreendi o teu contexto. Limitei-me a ver o que me era dado a olhar. O encontro das bandeiras. Uma procissão acompanhada da banda, pessoas carregando estandartes com o símbolo da pomba branca. A dança de fita das meninas. Ensaiando a verdadeira beleza por entre o olhar atento da professora. O casal festeiro deste ano – a primeira-dama e o prefeito – ao receberem a bandeira vermelha com fotos dos devotos deram um sorriso protocolar do festejo. Mero simulacro do meu já apagado desejo.

O congo começou tímido, ainda era seis da tarde e a missa do divino ainda ia começar. Mesmo assim, a procissão ainda seguiu ao teu altar improvisado, na casa defronte à igreja – do outro lado da praça – tudo era vermelho e dourado e o nome de império dava vida antiga ao que era para mim simples mistério. O sono me invadiu como um exército inimigo e resolvi descansar enquanto a programação da festa se resumia à missa na igreja matriz.

Quando voltei à ti, recuperada do afogamento do meu sono, a noite já tinha caído. As luzes, as bandeiras e as pombas brancas davam a impressão da festa que já tinha se iniciado, mas para mim ainda era apenas um esboço. O bingo, a mandioca frita, o vinho quente e o quentão deram alento ao meu coração. Por um breve momento não me senti tão só. Mas foi quando os congos e moçambiques recomeçaram é que percebi que o meu encontro naquela noite era com o meu próprio eu solitário. A melodia e as bandeiras, os tambores e as fantasias de marinheiros, reis e rainhas com requipes de etéreos eram apenas detalhes. A minha visão era um verdadeiro embaço sem compreender ou entender o que tu me mostravas. Experimentei como nunca a solidão em ti. Solidão do ouvir, solidão do sentir, solidão do estar.

Percebi que em ti o divino tem cheiro de gente, mas nem por isso me senti convidada a compartilhá-lo. Gente de todas as cores, raças e idades. Gente que assim como eu, muitas vezes carrega o divino em si sem nem o saber, sem nem o perceber. Talvez por isso tenha me sentido tão só. Ao ouvir os cânticos ao São Benedito percebi que diferente daqueles homens não tinha a quem pedir proteção. Não naquele momento, não daquela forma. Senti como nunca que não participava daquela comemoração. Talvez em outra hora.

Algo diferente aconteceu quando duas congadas se encontraram, cada uma vinha de uma direção da rua e conforme os sons das duas se misturavam, uma névoa forte e espessa caiu do céu, o ar ficou mais frio. Neste momento olhei para dentro de mim e deixei de me sentir tão só. Assim como a névoa, senti que também fazia parte do cenário. Mas o momento passou rápido, logo uma se calou e ouviu atentamente a outra cantar. A névoa quase instantaneamente se levantou e eu passei novamente a não fazer parte da festa.

No dia seguinte, a luz do sol e seu calor me mostraram outra cidade. Ainda enfeitada pelo divino, ainda com cara de festa, linda, bela e enquadrada como um delicado retrato. Vi na fonte do teatro, a grade que cobria a seqüência de casas coloridas no ponto mais alto da cidade. A mais bela vista do cenário. Ao lado, a igreja da nossa senhora do rosário com um cemitério. Todo branco e enfeitado de flores.

Apesar de tu ainda estar vestida para a festa, pude me sentir mais á vontade. Já havia me acostumado com a solidão do meu divino. Isso não mais me incomodava. Talvez não me incomodasse nunca mais. Isso não o saberia naquele momento.

A única certeza é que tu me trouxeste a solidão como única possibilidade de conhecer o divino que habita em mim. E isso nem posso agradecer. Ainda não consigo dizer mais do que isso. Prezado divino meu, obrigada por tu simplesmente existir.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Ei , Tati !!! Anda ocupada ???? Atualiza o blog, vai ...

12:01 PM  

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