segunda-feira, maio 08, 2006

O Suspiro...

Ela sabia que aquele suspiro significava a falta que ela sentia dele. E não era uma falta só de pele. Era falta da voz, da respiração, da sua simples presença na sua fome. Todas as vezes que ela suspirava, ele logo a abraçava por trás. Principalmente quando o suspiro escapava nas manhãs ao despertar.

Aquela era uma mania antiga. A primeira coisa que ela fazia ao abrir os olhos era dar um longo e sonoro suspiro. Misto de preguiça, agradecimento e contentamento. E acabou se criando um código, o suspiro dela pedia o abraço dele, quase sempre por trás. Afinal, era sempre ele que se preocupava em abraçá-la durante toda a noite. Ela sempre virava para o lado de fora da cama e era sempre ele que dormia olhando para o interior dela. Com cuidado e a abraçando com carinho, quase como se fosse um berço a embalar seu sono tão vazio e tão sozinho.

Mas naquele dia ela sabia que depois do suspiro não haveria abraço. Nem fita, nem laço. Nenhum presente a esperava para fora daquele embaraço. Por isso, quando veio o suspiro o que o seguiu foi um soluço. Profundo e em completo desatino. Como se a explicar para aquele suspiro que o código se rompera. Não havia mais os braços dele para o acalmar nem para dizer o quanto aquele dia seria bom.

O soluço se transformou logo em choro. Mas não era um choro sentido nem calmo e sim um ritual de sacolejos que começava no meio do seu ventre e deixava todo o seu corpo a tremer, leve e perene. Esse choro durou muito, tanto que nem percebeu quando adormeceu novamente. Ao acordar, os olhos não abriram com a mesma facilidade, afinal havia chorado tanto que eles estavam meio inchados, pareciam duas bolas de gude de plástico, daquelas vermelhas e sem asco, mas com toda a dor da falta do abraço que não a embalou naquela manhã.

Pensou consigo mesma, é querido suspiro, você vai ter que se acostumar a acordar sozinho, pois essa sua choradeira me deixou até cansada. O suspiro respirou aliviado e lhe disse baixinho, fique tranqüila, logo me acostumo com a solidão, só te peço que no próximo abraço, tu possas também dormir virada para os braços, pois um dia eles se cansam de só abraçar sem serem abraçados.

Ela percebeu que uma nova lágrima inaugurava o rosto ainda inchado e respondeu, com os olhos presos no chão, fique tranqüilo suspiro, os próximos braços que te abraçarem serão tão bem-vindos que eu não somente dormirei de frente para eles como os abraçarei todas as noites sem nenhum cansaço. Ela ainda suspirou mais uma vez antes de dar o próximo passo para fora da cama. Agora sem nenhum estardalhaço. Apenas com seu solitário coração batendo forte como aço.

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