quinta-feira, maio 04, 2006

Mais um conto...

APOCALIPSE

Quando tudo aconteceu, a inocência reinava tanto no sol quanto na lua. Como nós nos conhecemos não importa, simplesmente aconteceu. Foi uma dessas poucas coisas da vida que não precisa de explicações e quando você dá por si, já foi.

Eu ai todos os dias àquele lugar e nunca havia reparado nela. Porém, naquele dia sua cor e seus acessórios estavam especiais e eu como um pobre cachecol não pôde deixar de notar a maciez e a textura da malha que a produziu. Era realmente uma linda blusa.

Quando ela me viu, percebi que sorriu e conduziu, não sei como, sua dona até meu dono. Ela parecia realmente receptiva e aproveitei uma aproximação.

Conforme nós conversávamos, os animais que povoavam os céus desciam e ficavam fascinados com nossas feições que adquiriam formas bizarras que pouco a pouco lembravam a felicidade. Os anjos apareciam e não acreditavam na nossa mágica.

As horas se passaram rapidamente e, quando notei, meu dono já estava se preparando para partir. Sua dona também estava quase indo embora, quando numa escorregadela passei para o seu pescoço e senti a emoção de tocá-la. O sentimento de pertencer era mínimo; a emoção de sentir era pouca, a atração de fundir tudo era máxima.

Meu dono se desculpou e insistiu em me trazer de volta, mas eu não queria, desejava passar o resto dos meus dias sobre a sua maciez. O bar já não parecia tão claro e nós continuávamos como se nada houvesse acontecido, afinal os animais estavam no céu e os anjos continuavam a cair das nuvens.

A inocência do Sol já era da Lua quando finalmente uma mão conseguiu nos separar. Anunciava-se a extinção de nossa raça. Morriam os amantes, sobreviviam os animais.

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