sábado, agosto 19, 2006

Em tempos de Flip... Poesia feita em Parati...

FESTA NO AR

Estranheza que me causa,
Avistar nas ruas de pedras irregulares,
Com a música da harpa a soar,
Homens a portar distintivos enormes
Segurando metralhadoras no ar.

Em seus olhos, não há nada que indique desconforto,
A companhia do instrumento matador,
É para eles costume, labor,
E não causa espanto ou dor.

Meu coração aperta,
E sinto um não sei o quê enorme,
Vontade de sumir no mundo,
Para dele não precisar esquecer o nome,
Sinto-me só nesta dor,
E realmente estou,
Quando começo a escutar vozes.

Quantas histórias estas pedras querem contar.
Dizer a estes homens que o tempo de matar já passou,
Foi na época do ouro, da escravidão, do café.
Hoje, se mata de outra forma,
É sem sentir amor, compaixão, ou fé,
É sem dar àquele que nos pede,
Um afago e um cafuné.


A música continua,
E as pessoas continuam a passar,
Simples transeuntes, sem se importar,
Com as histórias que as pedras têm para contar.

Acalmo-me,
E compreendo que sou só eu que as escuto desta forma,
Não existe compartilhar, nem bem estar,
Apenas uma solidão enorme,
Maior do que o mundo,
E sem resquício de ser fome,
É ausência mesmo,
Daquelas que nem se sente,
Para não se acostumar com o disforme.

Estar só, simplesmente,
Em meio ao Largo do Rosário,
E vislumbrar que apesar de tudo,
O caminho que ainda se tem a andar é longo e uniforme.
E nele me defrontarei com várias dores iguais a estas.
Por isso, é preciso soltá-las ao vento como se fossem balões de gás,
Para que o seu colorido possa ao menos simular uma dança descompassada,
Um simulacro de festa no ar,
E simbolizar uma tristeza que têm certeza que a alegria é o seu lugar...

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