quinta-feira, junho 15, 2006

BEIJO BORDADO


O que eu sinto, não me vêem,
O que me vêem, eu não sinto,
É tanto desencontro,
Que às vezes, minto.


Sem raiva, premeditação ou culpa,
É mentira verdadeira, pura,
Que me faz crer na fluidez da água que passa e nunca fica,
Pois é da sua essência ser rala e viva...

Vez em quando, a mentira vem com algum desassossego,
Aperto no coração, como se fosse um medo,
Uma sofreguidão, um lamento...
Daí, ela arranha a garganta e só sai com rouquidão,
Voz grossa que mostra a podridão do atropelo...

Tem outros momentos que a mentira parece um perfeito novelo,
A ponta é tão pequena e frágil, que é incerto o desfecho,
Pois o grande desenrolar das frases,
Faz da mentira um complicado bordado no pano em relevo,
Daqueles difíceis de desmanchar,
Sem deixar marcas e pontos profanos de desejo.

Mas é quando a mentira se confunde com a verdade,
Que eu realmente me calo e canto o sossego,
Pois é somente aí que compreendo que no sentimento,
Não cabem alguns conceitos e só é real o que eu aceito e remendo,
Sem importar o enredo ou o acerto,
Já que a voz é o meu próprio ensejo de tornar belo meu amor,
Como se fosse um beijo,
Bordado com meu sangue,
Sem nenhum outro adereço.

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