quarta-feira, julho 12, 2006

AINDA NOS FRAGMENTOS DA MEMÓRIA DELA...

Se quiser ver o começo da história vá até a publicação do dia 08/07...


Segundo ato – a morte no seu aniversário.

Foi com seu recorrente pessimismo que ela recebeu a incompreensão dele. Sabia que isso aconteceria, repetia sem parar para o seu coração e era já por vislumbrar esta perda que simplesmente não queria amá-lo. Mas já era tarde demais para isso. Pensava aflita que precisava voltar a ser a mesma de antes, com a mesma aparente distância e a inexistente frieza latente que ela ainda insistiu em achar que era a sua marca patente. Ela achava aquilo possível e não imaginava o quanto estava enganada. Assim como ele, ela também não poderia voltar a ser quem era antes de tudo aquilo acontecer. Disso, ela ainda não suspeitava.

As emoções que sucederam foram tão fortes para o seu coração acostumado com a solidão que ela sentiu a morte atravessá-lo bem na noite do seu aniversário. Eles já não estavam mais juntos, mas fazia pouco tempo, tão pouco que haviam se separado que ela ainda não tinha se acostumado. Ainda mais porque ele queria fazer uma festa surpresa para ela. E a surpresa realmente aconteceu.

Ele foi e saiu cedo para ir para outra festa. Aquilo para ela era o fim. Nem saberia explicar com a razão o que a moveu naquele momento, foi somente sentir aquela dor profunda no seu peito a lhe dizer que tudo estava mesmo acabado. A dor era tanta que o corpo dela não agüentou. Nunca tinha chorado daquela maneira até aquele momento e nunca mais o faria. Era como se fosse um monstro se agitando e urrando dentro do seu ventre. Uma dor fina e compulsiva a mostrar os dentes como um cachorro raivoso e abandonado. Ele não conseguiu presenciar aquela dor. Doía também muito para ele. Chamou a grande amiga dela para consolá-la enquanto saía de forma rápida, decidida e furtiva. Saída sem plano de emergência nem guarida. Apenas com a urgência de desejar e querer recomeçar a sua vida, sem a falsa frieza dela. Era só isso que ele queria.



Ela dormiu de tanto chorar e nem viu a festa acabar. A grande amiga que dormiu com ela disse que todos foram embora ao ouvir seu choro, sem suor nem vela a soar no apartamento como um canto desesperado, um estandarte da ausência dele a gritar bem no meio do seu coração apertado.

Ele ainda tentou contornar a situação. Mas não havia mais remendos, pensava o coração dela, tão ausente e moribundo que não conseguia deixar de chorar em qualquer lugar, na frente de qualquer pessoa. Experimentou a morte bem quando comemorava mais um ano de vida. Disso ela nunca mais se esqueceria. Era um marco na sua caminhada. Tanto que demoraram alguns anos para que de novo conseguisse comemorar na sua casa, com seus amigos a data que tanto esperava, assim, da forma que mais gostava.

Essa memória foi sendo substituída por outras. Começou a procurar fatos felizes para marcar aquela data. Fatos que a pudessem fazer esquecer dos urros e do dormir de cansaço sem perceber, como fizera naquela noite em que conheceu a morte pela primeira vez.

Mas foi somente o tempo capaz de tornar aquela memória cheia de poeira e vento, deixar aquela história quase como uma simples imaginação do seu pensamento. Tão distante que tempos depois chegaria a duvidar da sua real existência, mas a pontada no seu ventre não a deixava cometer essa loucura, não a deixava esquecer daquela experiência. Afinal depois daquele choro, é que seu coração havia realmente vivido, disso tinha a certeza.

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