quinta-feira, julho 20, 2006

FRAGMENTOS DA REALIDADE...

Primeiro Ato - o confronto

Ela só queria andar sem destino. Sem ocupar-se com pensamentos ou desatinos. Simplesmente andar. Movimentar as pernas rumo ao infinito como se assim pudesse chegar ao ponto inativo do seu desejo. Do seu sentido. Mas ao andar indefinidamente veio novamente o suspiro. Suspiro descontente de quem ainda não encontrou o seu indefinido estar sem tino. Foi aí que parou.

As pernas bambearam como se atrasadas a captar a sua vontade, os braços se ergueram como se tontos e inexpressivos pudessem dar o tom do medo, mas foi a boca, com seus dentes, saliva e língua que comandaram o show do corpo contra a mente. O grito.

Um grito forte, insuspeito como um corte. Entre o agudo e o aflito. Sem conseguir se definir, sem sorte. Assim, sozinho, o grito foi capaz de debelar a sua ironia contra a morte.

Continuou a andar, mas sem a mesma teimosia. As pernas agora já não mais lhe obedeciam, eram autônomas, sozinhas, pequenas ladainhas do seu eterno murmurar intermitente. Os pés, que antes pareciam nem existir, também fizeram um ato de rebeldia, ensaiaram uma dança - o que a lembrou o tom rubro dos sapatos de um conto, perdido nas memórias da infância.

As mãos pareciam serem as únicas que junto com ela, tentavam lutar contra todo esse improviso. Seus movimentos eram inquietos, como se a dar o comando para os braços, ombros e tronco da sua necessidade incompleta; da veracidade da entrega.

Foi uma luta árdua, nem saberia precisar quanto tempo durou. Mas foi o seu resultado que mais a marcou. Ninguém ganhou. O corpo foi vencido pelo cansaço e a sua vontade pelo acaso, quando vislumbrou fora do campo de batalha, a medalha que a chamava.

AMANHÃ CONTINUA...

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