quarta-feira, julho 19, 2006

ÚLTIMO ATO DOS FRAGMENTOS DA DOR... TÁ QUASE NO FINAL...

Terceiro ato – A dor dele junto com a não dor dela

Como esta era a primeira vez que a dor dela não estava lá e que a dor dele pôde ser sentida, a história agora vai ser contada por estes personagens. A dor dele e a não dor dela. Ambas de mãos dadas e aflitas.

A dor dela fora embora naquele dia da música, mesmo. Nem ela, a dor, tinha entendido o que aconteceu. Ela estava há tanto tempo com ela que já tinha se acostumado, por isso quando foi expulsa do coração dela, ficou perdida, sem procura nem achado.

A dor dele estava muito submersa. Ele se sentia tão mal pela dor dela, que sempre que ela aparecia, guardava a sua própria dor no bolso. Nunca podia deixá-la à vontade e por isso ela nunca tinha sido notada. Mas tudo bem pensava a dor dele, ela era tímida mesmo, nem precisava ser vista.

Portanto, naquele dia a dor dela sabia que estaria ausente e soube disso desde o primeiro instante, mesmo quando ela disse em voz alta para o seu coração se acostumar com esta falta. Ela ainda tem medo que eu volte, disse a dor dela baixinho, ela ainda não entendeu que eu praticamente já morri, será que acredita em reencarnação de dor, perguntou para si mesma, quando ouviu a voz dela em desatino.

Já a dor dele, quando ouviu ele marcar o encontro, sabia que desta vez não se contentaria com nenhum bolso. Não existe mais bolso que me caiba, pensava, com a mão na cabeça, pedindo para que ele a deixasse um pouco solta.

Quando a dor dele percebeu que ele estava na mesma situação de sempre, esperando por ela, viu que naquele dia não tinha mesmo como voltar para casa sem se mostrar. Mas o que lhe deu a certeza de ser vista, foi quando ela, apesar do caminhar hesitante que ele tanto gostava veio sorrindo, como há muito ele não esperava.

O filme passou e a dor dele se segurou para não chorar, afinal o que ela ia pensar. Já a dor dela que estava longe não se importou de deixar derramar uma lágrima quando a filha do poeta disse da morte do amor, como ela era uma dor quase morta, não se deixou impressionar e soltou de si a água que há tanto tempo não escutava rolar.

No bar, a dor dele teve certeza que a dor dela tinha mesmo ido embora. Nenhuma sombra no seu olhar, nenhuma ruga, nenhuma vontade de interpretar o que ele dizia, nada, nenhum vestígio. Sentiu-se bem e se pôs a falar. Há tanto a dor dele não falava que ficou até sem ar. Começou falando de uma dor de infância, grande e invulgar. Ele percebeu quando a não dor dela reconheceu a dor dele e a cumprimentou. A dor dele ficou tão emocionada que quase chorou, mas isso também não podia, pensou. Uma coisa é se mostrar a outra é molhar a todos sem avisar.

Quando ele percebeu que não tinha mais como evitar, guardou a sua dor. A dor dele novamente dentro do bolso. A dor dela longe como deste o início do encontro. Certamente, estas dores ainda iam se encontrar. Nem que fossem apenas para simplesmente se consolarem. Isto era certo e pronto.

AMANHÃ CONTINUA COM OS FRAGMENTOS DA REALIDADE...

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