domingo, julho 16, 2006

ÚLTIMO ATO DOS FRAGMENTOS DA MEMÓRIA DELA... AMANHÃ CONTINUA...

AINDA NOS FRAGMENTOS DA MEMÓRIA DELA....

Quinto ato – A alegria


Só queria alegria. Já havia passado muito tempo desde que ele passou a não compreendê-la e pouco que ela tinha passado a entendê-lo. Não queria mais saber de tristezas. Deixou-as de lado, embaixo ou em qualquer outro canto. Já sabia que as lágrimas e o aperto não mais lhe davam encanto. Preferia os dentes brancos, amarelos e sinceros a estampar na face o enlace da vida com o manto da simples euforia, sem pranto.

Por ser um tempo feliz, até a chuva se emendou e deixou o sol a florir como se a possibilitar que a sua luz pudesse filtrar raios multicoloridos, azuis, amarelos, roxos, todos muitos vivos. As pequenas plantas verdes ao redor das árvores também pareciam matar a sede com a água que muitas vezes desabou do céu. É a chuva que deixa a cidade molhada e a alegria bem instalada, ela pensava absorta em sua própria felicidade.

Mas para ter chuva é preciso que caiam as lágrimas. É mesmo, pensou desarvorada, mas não precisam ser lágrimas de tristeza, também se chora de alegria, lembrou-se naquela noite fria. Foi por isso que sem nenhuma nostalgia deixou que as lágrimas rolassem na sua face para a terra seca da magia.

Foi só aí que entendeu que para se ter alegria é preciso chuva, para se ter chuva é preciso água e para se ter água é preciso lágrima e para ser ter lágrima é preciso alegria. Era uma ciranda que rimava sem nenhuma idiossincrasia. Ciranda de palavras redondas e fartas repletas de mágoas vivas.

Percebeu que a alegria, assim como a tristeza era apenas uma face da sua nuvem fria e deixou que ela ficasse soando solta sem nenhuma pressão ou necessidade. A alegria teria que ser natural pensou com a voz da monotonia. Mas não se prendeu a isso, afinal para se ter alegria é preciso ser livre, lembrou sem certeza ou sabedoria, apenas com a ponta do cabelo enrolado nas mãos, como fazia quando ainda era criança. Era só isso que sabia.

CONTINUA...

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Oi, Tati.
Muito bonito!

10:08 AM  

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