quinta-feira, novembro 23, 2006

Versinho...

Fui ver,
Não vi,
Fui ter,
Não quis,
Você apareceu,
Compreendi,
O porquê do nome,
Do bem-te-vi.

Quis sair,
Esqueci,
Quis morrer,
Desisti,
Sonhei amar,
Concebi,
A sua imagem
E o meu porvir.

Quis andar,
Senti,
Quis encontrar,
Permaneci,
Agora sei onde ir,
Com você a me seguir.

domingo, novembro 19, 2006

"Tô Só" por Hilda Hist

Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando?
Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô?
Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando?
Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida para todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta?
Vamo brincá
de teta
de azul
de berimbau
de doutora em letras?
E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...
Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?
Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?
nave
ave
moinho
e tudo mais serei
para que seja leve
meu passo
em vosso caminho
Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista? Bom dia, leitor. Tô brincando de ilha.

(Cascos e Carícias, Hilda Hist)

domingo, novembro 12, 2006

Cemitério dos Navegantes....

"Eu o avistei de longe. O sol estava forte e fez com que eu me sentisse fraca, quase sem visão. Mas mesmo assim o vi. Só que antes de ir até ele, parei numa pequena construção desejando a sombra. Ao entrar percebi que era uma pequena igreja... de um minúsculo cemitério. Poucos túmulos, com flores de aço, de papel crepon colorido desbotado... e a vista era da linda enseada do litoral norte da bahia... depois de um pouco descansar, continuei a andar e me veio na mente o nome do lugar "cemitério dos navegantes"... não tinha nenhuma placa mas nem precisava, o próprio lugar dizia o seu nome, numa voz sussurada, uníssona e quase rouca... Foi quando eu consegui chegar nele... Um forte ou um castelo? Ainda não sei e também não importa, mas quando pisei nas suas pedras uma onda de sentimentos indefinidos me invadiu. Várias salas, todas em pedras nuas e cruas, uma sensação de que a morte que não tinha espaço no pequeno cemitério ao lado, lá preenchia juntamente com as saudades, histórias e as próprias ruínas... foi a primeira vez que conheci a própria morte viva... "

terça-feira, novembro 07, 2006

Eros e Psique por Fernando Pessoa

Conta a lenda que dormia
Uma princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida
Se espera, dormindo espera
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado
Ele dela é ignorado
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o seu destino -
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra a hera,
E vê que ele mesmo era,
A Princesa que dormia.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Divino Lógico...

Em pleno dia dos mortos... a lógica do divino...

" É preciso reencontrar o humano no divino, assim como o homem sempre procurou lidar com a divindade por intermédio do mitológico, do ilógico, por não compreender que o divino apesar de extraordinário faz parte da lógica..."