Novo endereço...

Entreguei-me ao meu destino. Só e em completo desatino. Chorei de desespero e me percebi acalentada pela tatuagem. Algo mais mudou em mim, além dessa entrega. Ainda não entendo o quê. Quero somente esquecer os pensamentos em vício morto. Experimento algo novo. Quero muito me conhecer fora desse contorno. Olho as linhas da mão e tento adivinhar o futuro. Palpites e limites. Não me curo. As unhas arranham as costas machucadas. Queimaduras aladas. Percebi que o amor muda de casa. Não deixa recado nem leva mala. Coração querendo mudar de tamanho. Deixar de ser grande, sozinho e vermelho. Querer ser um punho em relevo. Ser capaz de revelar o seu novo endereço.

não-história

A sua vida era uma não-história. Demorou tempo para perceber. Agora que o tinha feito, o dava por terminada. Acabava a sua não-história com um final trágico. E ela ficava estatelada, como se tivesse se jogado do décimo andar. A sua não-vida havia se suicidado... E precisava ressuscitar de algum lugar, de alguma forma... Para onde iria??? Ainda não sabia, mas levava a sua não-vida no caixão do passado. Iria enterrá-la perto da mangueira do quintal. Naquele final de tarde, abriu o buraco, jogou o caixão e uma flor vermelha. Era a sua não-história que tinha morrido. Agora precisava cuidar da história que ali nascia... Exatamente no momento em que começou a contar do enterro da outra... e ela continua...

Pimenteira

faz tempo que você está longe. tanto que até já me acostumei. me relaciono mais com a tua ausência do que com a sua presença. mentira. acho que gosto mais da tua ausência. o seu jeito de não olhar, não dizer, não rir, não chorar... que saudade que dá...

ontem mesmo limpei a pimenteira. aquela que comprei na feira que vagamos o domingo inteiro. eu, você e a pimenta. ela quase morreu. acho que sentiu falta das minhas mãos. qdo vi o teu não sorrisso no reflexo da janela foi que percebi que ela tava quase morta. foi ele que a salvou. a pimenta agora tá de novo com florzinhas brancas. virgens. lindas. e o teu hálito continua a me entorpecer. tive que dormir para te esquecer. só mais essa vez, a pimenta me disse. será que acredito??

sobrevoando...

voltou... sem nem mesmo perceber daonde veio e como chegou. vontade de viajar, de ir ver e contar... perceber o ar e a vida sem nenhum luar. quero ir e nem sei se quero voltar... soltar o balão e não deixá-lo pousar. felicidade de chegada, de mudança e de reiniciar... comemorar a nova morada no ar... é assim que amanhã eu vou estar...